Oposto (mas bem parecido)
Já que falei do pai, vou detalhar um pouco sobre minha mãe.
Do "alto" dos seus um metro e cinqüenta ela comandou nossa casa com um misto de domínio e doçura. Os dois sentimentos se fundiam a ponto de sufocar, mas agora que estou longe dela, sinto falta destas sensações.
Ela pertence à uma família grande, ao todo são quatorze irmãos, dividos bem ao meio, sete homens e sete mullheres. Comenta sempre da sua infância, mas quase todas as suas lembranças são ligadas a mãe (minha avó). Seu pai era meio bravo. Sua mãe amável, carregava o marido nas costas (tanto no sentido figurado, ou seja, nos momentos de comandar a casa e o dinheiro, quanto no sentido real, pois há uma história verídica, em que "num" dia de enchente na roça, ele começou a reclamar que não atravessaria tal parte alagada, ela não pestanejou, o colocou nas costas e "vamu simbora"...).
Como percebem também foi criada na roça, e teve "n" causos engraçados. Começou a fumar com sete anos de idade, escondida, cortava um "doze" pra conseguir uma palhinha para formar um cigarro. Como não tinha fósforos (tampouco isqueiros) ela chegava ao ponto de colocar pedaços de brasinha na mão, jogar pela janela da cozinha, e sair correndo desesperada para fora para acender o cigarro. Uma pena, pois queimava a mão e a brasa jazia apagada no quintal. Ainda bem que não coloca um cigarro na boca há mais de vinte e cinco anos...
Ficava sozinha com suas irmãs, quando criança, pra sua mãe trabalhar. Fazia muitas artes e meu avô a deixava de castigo acorrentada para fora de casa (quem contou essa máxima foi uma tia, ela mesma, não dá o braço a torcer que era uma arteira, e que tínhamos para quem puxar), podendo entrar somente para jantar. Nessas ocasiões brincavam entre sacas de arroz e cobras, sendo que estas eram descobertas e mortas pela minha avó, apenas horas depois das brincadeiras das filhas. Um perigo. Outro perigo aconteceu quando iam para escola, ela e mais duas de suas irmãs, e por medo de uma vaca que a perseguiam, correram desabaladas. Ela e outra irmã conseguiram se salvar, a outra foi inevitável, tragicamente mergulhou "numa" fossa aberta. A sorte que conseguiram uma pessoa pra resgatar minha tia, que estava até "as tampas" de cocô.
A surra fenomenal que se lembra, foi quando meu avô comprou um saco de amendoim e colocou sobre a parede (a casa era daquelas que não tinha forro). Sem querer, ela e seus irmãos fizeram um pequeno furo no saco e "assaltavam" o dito cujo. Quando seu pai descobriu, o saco estava pela metade. A cobriu de pancadas.
Duas coisas chatas:
- Não conheci meu avô, seu pai.
- Foi eu quem dei a notícia que sua mãe havia falecido. Digo com conhecimento de causa, foi o pior dia da minha vida.
2 Comments:
engracado, minha familia tem uma historia de vida bem parecida e que as vezes me causa, alem de uma certa inveja, o sentimento de que nasci na epoca errada. Mas me conhecendo bem, acho q foi valido eu nao ter pertencido a essa geracao e a esse modo de vida, pois como muitos da minha geracao que viveram socialmente cercados de predios na selva de concreto, eu nao teria culhoes pra enfrentar tantas aventuras, ja que sempre fui o senhor cagalhao, desde pequeno, haha
Pois é, Digo...
Também sinto inveja dessas histórias contadas pelos meus pais, isso porque a deles não chegam nem nos "pés" das contadas pelos meus avós...e assim por diante.
Eu não passei por travessuras na roça tampouco lidei com vacas e galinhas, mas brincava tranqüilamente na rua, andava de bicleta, as vezes sumia e sempre estava tudo bem.
Agora, pergunta se minha sobrinha faz isso...já mudou, e assim como nós achamos demais a infância dos nossos antepassados, tenho certeza que os próximos que virão também sentirão "invejinha" da nossa...
Bju
Volte sempre!
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